SÍNDROME FLORAL

INSTALAÇÃO VÍDEO

“No vídeo, as autoras referem “Pensámos sempre que a colecção teria a ver com flores. Um qualquer tipo de flores talvez ligado a algum exotismo, a uma certa resiliência ou à forma insidiosa como se propagavam. Mas agora, em retrospectiva, não podemos dizer que ela nos tenha sugerido algo nesse sentido. É uma ideia que se instalou sem sabermos muito bem como.”

Infelizmente, Gertrude S. morreu sem esclarecer o sentido desta última colecção que seria como que o paradigma da sua complexa existência. Resta agora às autoras neste trabalho de homenagem proporem um sentido para as imagens que recolheram ao longo de três anos por três continentes.

O seu trabalho pode ser talvez comparado ao do mestre-escola Wutz na tessitura de um todo através de dados como o título, a imagem e a origem”.    

 Filipa Paes de Melo

A instalação resulta de uma reflexão sobre o coleccionismo e em simultâneo sobre os métodos de construção histórica, através da procura de um meta sentido para a ordem das coisas e a busca compulsiva que daí advém.

A construção de um sujeito através da análise e manipulação das suas colecções.

Walter Benjamin escreveu :

“A existência do coleccionador assenta numa tensão dialéctica entre os polos da desordem e da ordem. Mas, naturalmente, está ligada a muitas outras coisas. A uma relação muito enigmática com a propriedade. Depois, a uma relação com as coisas que não coloca em primeiro plano o seu valor funcional, portanto a sua utilidade, mas as estuda e ama enquanto palco, teatro do seu próprio destino.”

Qualquer vida é permanentemente ficcionada e vai-se desenrolando a par com a construção da memória, de forma a ter um sentido linear, messiânico, cujo significado último raramente se concretiza.

Diz Jean Baudrillard:

“A um dado momento torna-se característica da colecção uma ruptura que a arranca ao seu sistema involutivo e a determina para um projecto ou exigência (de prestígio, cultural, comercial – pouco importa desde que o objecto acabe por colocar um homem em face de outro: trata-se então de uma mensagem). Contudo, qualquer que seja a abertura de uma colecção, há nela um elemento irredutível de não-relação com o mundo. Por se sentir alienado e volatilizado num discurso social no qual as regras lhe escapam é que o coleccionador procura reconstituir um discurso que lhe seja transparente, já que detém os seus significantes e que o último significado de tal discurso vem a ser no fundo ele mesmo.”

Em colaboração com Cristina d’Eça Leal

Projecto Tangencial Experimenta Design

Casa Museu Medeiros de Almeida