Casa Flutuante

Casa Flutuante

2021

Argumento | Direcção de arte | Montagem.

Sinopse

Casa Flutuante, a casa sobre o Guadiana que Araci constrói segundo a tradição da sua tribo, simboliza a Amazónia. A filha foi assassinada durante as lutas pelo direito às terras dos povos indígenas e o português Inácio convence Araci a emigrar para a sua aldeia no Alentejo para dar um futuro melhor à neta. Mas Inácio morre cedo e Araci fica sozinha numa terra estranha.

Ao invés de procurar um lugar na vila e na comunidade alentejana, Araci fecha-se na cosmologia da sua tribo e torna-se quase eremita. Reinventa à sua volta um microcosmos onírico, que protege Joana (a neta) do mundo exterior. Pesca e cultiva plantas medicinais. 

Apesar do quotidiano harmonioso, preocupa-se com o futuro – Joana só será mulher depois da passagem pelo amor.

É nesta altura que Xavier, com a idade de Joana e emigrado com os pais em Berlim, regressa a casa da tia Adriana. Ao longo de duas gerações a herança da família foi ficando menor e Adriana cobiça agora as terras de Araci. 

Xavier submerge fascinado no mundo de Joana e Araci toma consciência de que esse universo chegou ao fim e que o paraíso não é civilizacional. 

Argumento

A impotência das populações face à destruição dos seus habitats seculares percorre todos os lugares da história e a Amazónia é paradigmática – existe um contínuo crime ecológico e cultural que não cessa de ser infligido apesar de ser denunciado desde o século XVI. O cataclismo da floresta agravou-se com a eleição de Bolsonaro para presidente do Brasil.

Outro exemplo é a comunidade de Avieiros em Portugal, populações que foram deslocadas de Aveiro para o Ribatejo em busca de trabalho até sobretudo os anos 80 do séc. XX. Por causa da pobreza famílias inteiras viviam dentro de pequenos barcos de pesca ou em casas palafitas nas margens do rio Tejo.

Inicialmente a história de Casa Flutuante situava-se em Iquitos, no Perú, onde parte da população também vive em casas sobre o rio como Araci ou os Avieiros.

No Ribatejo, quando as margens do rio começaram a ter valor imobiliário, as câmaras expulsaram os avieiros destas zonas, destruíram as suas casas deixando no entanto algumas para promoção do turismo.

Durante a investigação que fizemos às antigas populações de avieiros no Ribatejo conhecemos o amor de uma mulher pelo rio onde nasceu e cresceu, num barco com os pais e seis irmãos. Partilhou connosco memórias e a sua relação com o Tejo que varia consoante as horas do dia. Foi através dela que a personagem de Araci cresceu, primeiro no Ribatejo e mais tarde adaptada às águas escuras e seculares de Mértola.

Poster | Cadernos | Desenhos

O caderno de desenhos está ligado às tradições pictográficas ameríndias, cosmologias comuns entre povos antigos (antigos astecas, Kuna da América central etc)

A iconografia reunida no caderno da personagem mostra uma herança apoiada num sistema ritual complexo, muitas vezes transmitido através dos cantos, que dificilmente se traduz na cultura ocidental.

Um dos trabalhos que documenta a recolha iconográfica do filme apoia-se no trabalho que Niemeyer Cesarino desenvolveu nas aldeias da Amazónia junto de pajés-narradores dos Marubos. Na cena em que Xavier conhece Joana, há uma referência aos espíritos demiurgos, fazedores da Terra Névoa.

Mas Joana está muito longe do lugar gerador das crenças da avó Araci e tem acesso aos seus esquemas narrativos só por fragmentos dispersos, um pouco como os Marubos que foram quase extintos nos anos 70 

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