ODOR DI FEMINA

 

O simulacro nunca é o que oculta a verdade
– é a verdade que oculta que não existe.
O simulacro é verdadeiro.
O Eclesiastes

Folha de Sala da Exposição



O título Odor di femina foi retirado de um texto sobre arte feminina de Barbey d’Aurevilly (1878): “estudem as obras delas, abram por acaso! Na décima linha, sem saber de que se trata, vocês já estarão advertidos, vocês sentirão o odor feminino”.
 
Quando se entra na Casa Museu Marta Ortigão Sampaio, logo na primeira grande sala encontramos um auto-retrato de Aurélia de Sousa de corpo inteiro com dimensão próxima à real, vestida com o traje de monge franciscano. Aurélia de Sousa simula-se de Santo António. Uma provocação de género? Uma atitude iconoclasta? Ou iconólatra?
 
“Toda a fé e boa fé ocidental se empenharam nesta aposta da representação: que um signo possa remeter para a profundidade do sentido, que um signo possa trocar-se por sentido e que alguma coisa sirva de caução a esta troca-Deus certamente. Mas e se o próprio Deus pode ser simulado? Ele próprio nunca mais passível de ser trocado por real, mas trocando-se em si mesmo, num circuito ininterrupto cujas referência e circunferência se encontram em lado nenhum”. *
 
Que simula Aurélia de Sousa?
 

A instalação é composta por nove fotografias de um possível falso arquivo, classificadas com o título “estudos de preparação para a obra Santo António de Aurélia de Sousa, fotografias com modelo em atelier”.
Foi este jogo de simulacros que desenvolvi.
 
‘Mesmo sabendo que é perigoso desmascarar as imagens, já que elas dissimulam que não há nada por detrás delas’. *
 
 * Jean Baudrillard, Simulacros e Simulação (relógio d’água)

Exposição :

ESTRATÉGIAS PARA DE[MU]RAR O TEMPO

Curadoria de Fátima Lambert

Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio

 
Agradecimentos :

Eduardo Peterson e José Nascimento